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Isabel, há um tema que não temos comentado, ou muito ao de leve. Eu
porque entendi que ao não te referires a ele era, sem dúvida,
porque preferias que ficasse na sombra e tu, se não errei,
precisamente não te sentias com vontade de tratar de tal assunto.
Dias
atrás contaste como, ficaste sem pai após saberem que ele tinha
falecido “ao serviço da Pátria”, em Timor. Uma qualificação
solene dos factos que pouco contribui ao bem estar de uma viúva e de
uma criança de tenra idade. Referiste que andaste na escola, mas
pouco mais sei desta tua juventude. Não é que seja excessivamente
curioso, mas após estarmos casados a convivência entre os dois
entendo que deve ficar noutro patamar, mais abrangente, mais comum.
Estás de acordo?
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Disse, se não me falha a memória, que a minha tia Fernanda, irmã
do meu pai, sabedora do aperto que existia na casa dos meus pais e
irmãos, se ofereceu a nos dar guarida na casa de habitação que
ficava no andar acima da farmácia. Que era o modo de vida do casal.
pois que o marido, então tio Ricardo, tinha habilitações, com
diploma, para ser responsável, e dono da botica, onde a tia após
ser treinada por ele passou a ser uma ajudante. Entre os dois
atendiam a clientela, mas sempre com a responsabilidade do titular.
Poucos
dias depois da nossa chegada; provavelmente no dia seguinte ou no
outro, pois vimos que a tia trazia o esquema bem estudado, popós ao
marido que a minha mãe poderia vir a ser de muita utilidade ajudando
no atendimento, pelo menos nos dias de mercado, se bem que a
afluência de pessoas, consoante mais gente se radicava nas
redondezas, ia em aumento. Também deixaria de se sentir um peso
morto, um carrego, para a irmã e marido. E assim aconteceu. As duas
irmãs completavam-se e revezavam-se em harmonia.
Decorridos
uns três anos da nossa estadia na casa da tia Fernanda, aconteceu
uma desgraça que nos apanhou de surpresa. A tia foi para Aveiro, com
o propósito de fazer umas compras, combinar de um vestido numa
modista e ainda tratar de papelada nalguma repartição oficial.
Passadas umas horas da GNR telefonaram para a farmácia com a notícia
de que a tia tinha tido um acidente grave, muito grave, na linha do
caminho de ferro. De facto viemos a saber que tinha tido morte
instantânea; que ficou esquartejada e que as testemunhas afirmavam
que não foi uma queda acidental, mas que, sem dúvida, tinha-se
suicidado.
A
notícia caiu como uma bomba no lugar. A freguesia não falava noutra
coisa, salientando o bom carácter, amabilidade e seriedade da
Fernanda. Eu, já garotita, e como é normal um pouco pispirreta
tentava não perder pitada daquelas conversas, e menos das que se
faziam em voz baixa. Uma das vantagens das crianças é que os
adultos esquecem quão atentas estão aqueles anjinhos quando lhes
cheira a esturro. Fiquei com a mosca atrás da orelha acerca do
interesse que o tio Ricardo tinha pela minha mãe, mais nova do que a
tia e, quanto a mim, muito mais bonita. Qualquer desculpa servia ao
tio para vir ao balcão e roçar-se pela minha mãe com se não
houvesse espaço por trás do balcão. Nunca quis saber se havia ali
um adultério familiar. A prudência é a mãe da ciência.
O
que te posso dizer é que, tal como dizem no campo que é
tradicional, o cunhado fez o possível, e conseguiu, casar com a
minha mãe. E eu passei a ter um “padrinho”, que uma forma menos
agressiva de referir um padrasto. Já quando estava no liceu em
Aveiro, as colegas conhecidas insinuavam, descaradamente, que a minha
mãe era culpada da morte da tia. Nunca estes boatos chegaram a ser
motivo de quezílias, e com o tempo foram-se apagando. Do casamento
resultou o meio irmão Óscar, que meses atrás eu tinha pensado
propor para meu padrinho de casamento. Mas tu fizeste tudo à pressa
e a teu belo prazer. Não valia a pena impor uma ideia que, de facto,
pouco ou nada alterava.
Bolas!!
Agora caio em que falaste no teu irmão Óscar. Passou-me por
completo, não liguei. Podes desculpar? Não foi por mal e muito
menos me passaria na cabeça o desatento a um dos teus pedidos e este
era totalmente importante. Estou deveras envergonhado
Continuará
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