segunda-feira, 12 de agosto de 2019

MEDITAÇÕES – Reacções imediatas




INSTINTOS CONDICIONADOS

O que vou deixar aqui será, em princípio e desejo, da minha própria lavra. Ou seja, opiniões pessoais, que apesar de ter lido e ouvido muita coisa, penso que ficaram condicionadas por preconceitos próprios, sem me fundamentar em documentação de outrem. Não é devido a um excesso de egocentrismo ou por me de me considerar “superior”, (tristemente aceito estar num patamar bastante baixo) mas porque não gosto de me deixar influenciar por outros opinantes, mesmo de reconhecido saber.

Recentemente fui alvo de um comentário, emitido numa janela com pouca credibilidade, no qual me apontavam -levianamente a meu entender- como um racista. Neste fim de semana, no Expresso, li as respostas da actual ministra da justiça, Francisca Van Dunem, que, sem fintas, refere que o racismo ainda existe na nossa sociedade. Eu acrescento que a identificação imediata de uma pessoa pelas suas características corporais existe em todas as sociedades e imaginar que deixará de existir é uma utopia. Podemos esforçar a que os comportamentos sociais deixem de ser agressivos, mas daí a tentar enganar os olhos...

O que pode fazer diferença é a intensidade com que a percepção das diferenças entre humanos pode situar o comportamento de uns e outros entre os dois polos opostos, desde a aceitação e convivência pacífica, até à rejeição violenta e irracional. E os instintos nem sempre são racionais!

Por muito bonzinhos e respeitosos que desejarmos ser e nos comportar, é pertinente aceitar que quando dois indivíduos, que não se conhecem anteriormente, se encontram num mesmo espaço, a nossa visão nos transmite uma mensagem, não meditada, mas de arquivo, que pode condicionar o modo como iremos reagir, no aspecto social, perante aquela presença inesperada.

Adaptar o impacto instintivo a uma visão mais meditada, mesmo que também quase imediata, mas posterior à instintiva, já necessita de uma abordagem sem preconceitos. Coisa mais difícil do que nos pode parecer. Ver alguém com uma cor de pele escura, no meio de um conglomerado maioritariamente claro, “dispara” a atenção e o qualifica, sem que o instinto implique, sempre, um desinteresse ou a vontade de afastamento. É a experiência de vida, mais a educação cívica e social, que se carregam de orientar, por decisão meditada, para um comportamento determinado.

Proponho que ultrapassemos a análise puramente epidérmica da pessoa que temos perto. É mais difícil de explicar o facto de que, sempre com pessoas que vemos pela primeira vez. Algo na sua face, na sua compostura corporal, pode induzir a que nos sentir atraídos, com vontade de conviver, de falar. Digamos que à primeira vista uns nos parecem simpáticos e outros, pelo contrário, o instinto rejeita-os. O que não impede de que, caso se der a possibilidade de ter um trato mais próximo, verbal, o juízo que a visão nos deu seja alterado para o sentido oposto. QUEM VÊ CARAS NÃO VÊ CORAÇÕES.

Portanto, não é pelo facto de que os nossos olhos nos darem a identificação de uma pessoa como preto, chinês ou esquimó, que isso nos pode caracterizar como segregacionista. É o nosso comportamento visceral, sem condicionamento social positivo, que se poderá sobrepor às mensagens automáticas da vista para o cérebro. A partir daí surgem as considerações racionais, e são estas que caracterizam a pessoa. Sem desvalorizar os efeitos do estado de espírito naquele momento, da influência do ambiente e até de alguns preconceitos políticos que se sobrepõem à racionalidade.

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