INSTINTOS
CONDICIONADOS
O
que vou deixar aqui será, em princípio e desejo, da minha própria
lavra. Ou seja, opiniões pessoais, que apesar de ter lido e ouvido
muita coisa, penso que ficaram condicionadas por preconceitos
próprios, sem me fundamentar em documentação de outrem. Não é
devido a um excesso de egocentrismo ou por me de me considerar
“superior”, (tristemente aceito estar num patamar bastante baixo)
mas porque não gosto de me deixar influenciar por outros
opinantes, mesmo de reconhecido saber.
Recentemente
fui alvo de um comentário, emitido numa janela com pouca
credibilidade, no qual me apontavam -levianamente a meu entender-
como um racista. Neste fim de semana, no Expresso, li as respostas da
actual ministra da justiça, Francisca Van Dunem, que, sem fintas, refere
que o racismo ainda existe na nossa sociedade. Eu acrescento que a identificação imediata de uma pessoa pelas suas características corporais existe em todas as sociedades e imaginar que deixará de existir é uma
utopia. Podemos esforçar a que os comportamentos sociais deixem de
ser agressivos, mas daí a tentar enganar os olhos...
O
que pode fazer diferença é a intensidade com que a percepção das
diferenças entre humanos pode situar o comportamento de uns e outros
entre os dois polos opostos, desde a aceitação e convivência
pacífica, até à rejeição violenta e irracional. E os instintos
nem sempre são racionais!
Por
muito bonzinhos e respeitosos que desejarmos ser e nos comportar, é
pertinente aceitar que quando dois indivíduos, que não se conhecem
anteriormente, se encontram num mesmo espaço, a nossa visão nos
transmite uma mensagem, não meditada, mas de arquivo, que pode
condicionar o modo como iremos reagir, no aspecto social, perante
aquela presença inesperada.
Adaptar
o impacto instintivo a uma visão mais meditada, mesmo que também
quase imediata, mas posterior à instintiva, já necessita de uma
abordagem sem preconceitos. Coisa mais difícil do que nos pode
parecer. Ver alguém com uma cor de pele escura, no meio de um
conglomerado maioritariamente claro, “dispara” a atenção e o
qualifica, sem que o instinto implique, sempre, um desinteresse ou a
vontade de afastamento. É a experiência de vida, mais a educação
cívica e social, que se carregam de orientar, por decisão meditada,
para um comportamento determinado.
Proponho
que ultrapassemos a análise puramente epidérmica da pessoa que
temos perto. É mais difícil de explicar o facto de que, sempre com
pessoas que vemos pela primeira vez. Algo na sua face, na sua
compostura corporal, pode induzir a que nos sentir atraídos, com
vontade de conviver, de falar. Digamos que à primeira vista uns nos
parecem simpáticos e outros, pelo contrário, o instinto rejeita-os.
O que não impede de que, caso se der a possibilidade de ter um trato
mais próximo, verbal, o juízo que a visão nos deu seja alterado
para o sentido oposto. QUEM VÊ CARAS NÃO VÊ CORAÇÕES.
Portanto,
não é pelo facto de que os nossos olhos nos darem a identificação
de uma pessoa como preto, chinês ou esquimó, que isso nos pode
caracterizar como segregacionista. É o nosso comportamento visceral,
sem condicionamento social positivo, que se poderá sobrepor às
mensagens automáticas da vista para o cérebro. A partir daí
surgem as considerações racionais, e são estas que caracterizam a
pessoa. Sem desvalorizar os efeitos do estado de espírito naquele
momento, da influência do ambiente e até de alguns preconceitos
políticos que se sobrepõem à racionalidade.
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