Quando
vemos que acertamos ou erramos.
Se
decidimos do rumo da nossa vida o mais usual é que não só
modificamos o nosso percurso pessoal como, por arrastamento a nossa
atitude vai condicionar, mesmo que seja durante um período de tempo,
a vida de outras pessoas, nomeadamente de algumas com as quais
existam ligações familiares.
Este
é um tema que, quando a idade nos torna mais meditados e daí
propensos a fazer balanços do passado, nos pode ocupar algumas horas
mortas, aquelas que a insónia, nos oferece e que, não raramente,
nos induz à auto-recriminação, sem necessidade de abrir a boca nem
tampouco incitar a nos inculpar desde a janela para a rua, numa
espécie de penitência. Mesmo que o orgulho nos trave o impulso de
nos flagelar publicamente, o mais normal é que o ego com cariz de
penitente não consiga vencer o retraimento soberbo. Ou seja, mesmo
nestes momentos de introspecção é difícil que vença a
personalidade extra, a descontente, a que não consegue apoiar-nos
sem contraditório. Esta luta desigual está magistralmente retratada
no grilo que quer corrigir os erros de Pinóquio.
Quem
tenha lido, nem que seja por simples curiosidade, algumas biografias
de personagens ilustres citadas como exemplo por terem sentido a tal
“luz da verdade” e por sua influência passaram a ser o oposto
daquilo que foi o seu comportamento anterior, pode acontecer que
sinta algum cepticismo perante esta alteração da polaridade e
desconfia da autenticidade de tais mudanças. E daí não se sinta
com a mesma predisposição para mudar nas suas convicções e
comportamento.
Nem
mesmo os vestígios geológicos de que o nosso planeta já mudou de
polaridade em mais de uma vez não nos convencem de que as pessoas,
em geral, tenham uma propensão frequente para sentir um chamamento súbito que os induza para mudar drasticamente.
Imaginamos, de boa fé, que o indivíduo assim converso deve ter
passado por uma fase anterior que o empurrasse para a mudança
drástica, que a alteração deve ter sido progressiva e não súbita.
Claro
que “neste mundo cruel” tudo pode acontecer, e até nos oferecem,
gratuitamente, relatos de santificação de indivíduos que,
anteriormente, eram uns verdadeiros facínoras, indesejáveis.
Ao longo da minha vida e já com
capacidade para decidir, tomei demasiadas decisões e opções, que
posteriormente se mostrou terem sido mal ponderadas. Agir
impulsivamente, com a mente sob “o sangue quente” como se diz
coloquialmente, é muito propício a seguir o caminho errado. Uma
situação anímica que, tendo chegado a uma idade provecta, em que já é
impossível refazer o caminho, nos pode desmoralizar em grado
superlativo.
Quem,
neste momento, esteja afiando a faca por pressentir que vou fazer um
relato pessoal das decisões que, desde anos atrás, considerei terem
sido erradas, pode dormir descansado. Não vou abrir o meu coração,
ou a minha alma se preferirem, para gozo dos curiosos. Para me
penalizar basta reconhecer alguns dos meus erros. Certamente que não
todos, pois habitualmente as pessoas somos adeptas a não se
martirizarem agudamente. E se tal sentido de conservação não
funcionar, pode-se chegar à decisão final, que pode ser o suicídio.
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