O problema continuarà
O que vivemos nestes últimos meses são sintomas de problemas mundiais muito diferentes entre si, mas que por azar surgiram sobrepostos. Ontem comentei o quase fim da luta política nos USA. Mas não escondi que a situação de fundo permanece intacta, e em verdade não fica restringida àquele grande país.
Quanto ao covid-19 só nos resta ter os mínimimos cuidados ao nosso alcance e, pacientemente, esperar que, tal como as pestes anteriores, entre os esforços da medicina e a própria evolução destes micro-organismos, surja uma variante menos perigosa que, como uma gripe qualquer, se dilua de per si.
Voltemos à política nos USA.
O problema social que deu azo a que o candidado republicano aproveitasse, astutamente, e jogando as cartas que sabia cativariam os seus eleitores, apostou, com os seus discursos inflamados e semi-acusadores (teve muito cuidado em só aflorar as causas profundas do descontentamento social) dado que não desejava ter um só mandato não conseguiu os seus propósitos. Se descobrisse a marosca de fundo queimaria as suas próprias naves.
Em verdade a propaganda “democrática” também escondeu as raízes profundas do descontentamento, dado que os financiadores de peso estão metidos nelas e não se atrevem a tentar saír. Em poucas palavras; o problema está na GLOBALIZAÇÃO!
E teve os seus prelúdios quando se decidiu, como era de bom senso, reconstruir a economia dos países ganhadores e perdedores. Os dois grupos estavam muito feridos, numa economia destruída ou exclusivamente centrada no esforço de guerra.
Não creio que seja necessário relatar com pormenor como se percorreu o caminho do capital para melhorar os seus rendimentos. A desculpa de recuperar a Alemanha e o Japão, aproveitando a sua população, exausta mas com um nível de preparação profissional e educacional não desprezível, levou, com uma rapidez que não se conseguiu digerir no Ocidente, à deslocação da produção de muitíssimos artigos industriais. Desde a construcção naval, automóveis, equipamento pesado, electrónica e de artigos domésticos, tudo passou a ser produzido, mesmo que inicialmente mantendo as marcas do contratador e depois com marcas próprias, no Oriente.
Paralelamente incentivou-se o consumo, tanto com publicidade nas Tvs como na concessão de crédito sem restricções, na convicção e que os que cumprissem os contratos pagariam também pelos devedores.
O que os cidadãos estavam habituados a ver no cinema não os afectava ineriormente. Consideravam ser uma fantasia. Como um conto de fadas moderno. Mas o poder das imagens de televisão, em cada casa, mostrou-se ser fortemente motivadora. E isso coincidiu coma perda real de muitos empregos, e daí do poder de compra efectivo. Tudo levou a uma frustação e descontentamento geral em muitos sectores da sociedade
Os republicanos dos USA, através do Trump, tampouco desconheciam o causa do descalabro social. Mas não se atreviam a fechar de vez o domínio comercial, e económico efectivo, dos terceiros países. Aumentar os impostos alfandegários foi uma medida ténue, destinada a acalmar os espíritos semi-educados, pois que no fundo em pouco alteraram a situação. Os estaleiros, fábricas de material pesado e outras fontes de emprego de massas, não reabriram.
A promessa do MAGA não se cumpriu. Nem se pode cumprir enquanto não se alterar o esquema de transferências mundial. Possívelmente é tarde para isso. A Inglaterra, pressionada -por trás do pano- pelos USA está a dar uma machadada na UE.
Não aparece, por enquanto, um bom horizonte, factível, para as classes médias e baixas do Ocidente. Saber que as equivalentes no Oriente ainda estão pior não os pode consolar.
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