quarta-feira, 3 de março de 2021

MEDITAÇÕES – A história explica

 A dimensão territorial justifica tudo?

Nem por isso. Há capítulos na evolução da história que nos podem orientar quando procuramos entender a situação actual de Portugal. Sem esconder a cabeça na areia como se diz da avestruz (1) temos todos os elementos necessários para explicar como, apesar de tantos navegadores se lançarem à descoberta de novos territórios, e de se ter tido nas mãos valores consideráveis, ciclicamente o País passou por épocas de penúria. Aliás, congénita para uma grande parte da sua população.

Recordo, com frequência, a explicação que o Prof. Hermano Saraiva dava para o fraco rendimento que se conseguia com o regresso dos navegantes. Muito simplesmente o problema residia em poucos, mas importantes, factores. Em primeiro lugar uma carência de dinheiro como “fundo de maneio”, e também da falta de estruturas produtivas na metrópole.

Encomendar a um estaleiro a construção de um navio, conseguir equipa-lo, não só com uma tripulação tão experiente quanto possível, e, o mais importante antes de partir: conseguir mercadorias que servissem como moeda de troca com os povos gentis com quem se iriam encontrar, constituíam problemas difíceis de resolver.

A solução mais corrente era a de procurar ajuda entre os banqueiros dos Países Baixos. O armador responsável da expedição assinava documentos nos que se comprometia a que -caso regressasse- após desembarcar a tripulação -o que restava dela- rumasse para Norte e se apresentaria no porto onde tinha conseguido mercadoria para negociar. Só depois de acertar as contas é que podia rumar para Portugal.

E com quem negociavam este apoio -a crédito insisto?- Pois com judeus de origem portuguesa, que eram banqueiros e tinham conseguido escapar de Portugal apesar das perseguições sangrentas promovidas pela Igreja Católica Romana. Obviamente, com anterioridade já tinham preparado contactos e novas sedes nos portos do centro da Europa.

Foi esta sangria de pessoas preparadas, industriosas e tenazes, que levou Portugal a se colocar afastado da evolução industrial, cultural, social e económica. Perdeu a oportunidade de evoluir, de escapar do domínio da feudalidade rural e citadina. Não se gerou uma verdadeira e poderosa classe de burguesia. Este facto ainda hoje se faz sentir.

Ou seja. Não foi o tamanho territorial do País que travou a evolução. Foi a expulsão dos judeus, nomeadamente dos banqueiros independentes, mas experientes de gerações, sabedores e com ligações internacionais. Mais a expulsão de gentes com profissões de valia, tais como médicos, farmacêuticos, astrónomos, matemáticos e outros. Foi o espartilho do catolicismo obsessivo que colocou Portugal no fim da lista. Em compensação deixou os carrascos da Santa Inquisição.

Podem argumentar que isto foram águas passadas. Será assim? Pensem e extrapolem do que conhecem de perto.

(1) - uma falsidade que se tornou como verdade, e baseada em que, para defender e vigiar os seus ovos, a enorme ave, não voadora, baixa a sua cabeça até o chão, onde fez a sua postura e aguardar a eclosão dos ovos.


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