terça-feira, 31 de janeiro de 2017

A JUDIARIA



Raramente compro jornais, enfastia-me a maior parte dos textos por transpirarem, vergonhosamente, de obedecerem a directrizes emanas de sabe-lá onde. Mas hoje 31.01,2017, casualmente, ao passar por um quiosque onde sou conhecido, comprei o Diário de Notícias

E tive uma prenda inesperada. A edição do dia incluía uma separata, com o título genérico de PAIS POSITIVO toda ela dedicada aos municípios que recordam, com cuidado e rigor histórico, a presença de uma colónia de hebreus dentro do seu perímetro urbano. Obviamente que, para não fugir às regras que vigoravam quando estes cidadãos -patrícios de Jesus dado que nasceu, viveu e morreu sendo judeu- eram obrigados a residir numa área restrita, denominada de judiaria, que para nossa honra não estava cercada e onde os habitantes nacionais -gentis para eles e cristãos para os próprios- costumavam entrar a fim de comercializar com os artífices, escribas, farmacêuticos, médicos e outros profissionais de relevo que formavam parte dos habitantes da dita judiaria.

Pois nesta separata figuram, destacadas, vilas de renome,, tais como Cascais, Covilhã, Évora, Figueira de Castelo Rodrigo, Fornos de Algodres, Freixo de Espada à Cinta, Fundão, Gouveia, Guarda, Idanha-a-Nova, Lamego, Manteigas, Mêda, Moimenta da Beira, Penedono, Pinhel, São João da Pesqueira, Seia, Torre de Moncorvo e Vila Nova de Foz Coa. Os autarcas de todas estas Vilas e Cidades mostram-se muito satisfeitos pelo fluxo de visitantes, selectos, que lhes proporciona o facto de cuidarem desta memória, os orgulha.

Merece destaque a referência ao facto de que a autarquia de Torres Vedras, por palavras da Vereadora Ana Umbelino -curiosamente não opta por se intitular como deputada autárquica. Um bom exemplo de respeito pela história- refere que está em processo de instalação um Centro de Interpretação da Presença Judaica em Torres Vedras.

Já fora da separata sinto-me pressionado, pela minha forma de ser, que estando residente em Óbidos e com uma pretensa Galeria aberta ao público, era inquirido, com alguma frequência, por visitantes que perguntavam onde ficava a judiaria de Óbidos, pois que na bibliografia que consultaram constava ter existido uma pequena judiaria e uma sinagoga. Respondia que, de facto, e tal como sucedia noutras povoações, a judiaria estava incluída na mouraria, e que ainda hoje (então, que desconheço o que se possa dizer actualmente) se afirmava estar situada, dentro do recinto da Vila e no sopé do castelo. E que, a voz do povo -os que ainda estavam vivos e hoje devem estar mortos- se identificava uma casa como tendo sido a sinagoga.


Inexplicavelmente, ou talvez não, nesta terra que tanto se insiste em lhe dar um ar (falso) de medieval, nunca se procurou recuperar e fornecer um vestígio histórico aos nossos antecessores nas religiões do livro. Só o traçado, as muralhas e o castelo, já recuperado e remodelado com esmero, constituem um vestígio da história passado. O resto ...

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