sábado, 3 de abril de 2021

MEDITAÇÕES – Mutatis mutandis

 Procurando uma base fidedigna sobre um assunto que trazia em fase de alinhavar, procurei um volume, encadernado em rústica, do semanário O ANTÓNIIO MARIA, que abrange todos os números saídos da pena de Bordalo Pinheiro (texto e desenhos). É confrangedor ver como ali se descrevem as desventuras nacionais, numa época em que estava o regime monárquico e uma reduzida elite de colaboradores, a maior parte mais interessados no seu benefício pessoal do que em melhorar a situação do povo.

Não sendo uma obra histórica, valorizada como tal por um autor de nível académico, é de grande utilidade como documento ponderado.

Apesar de eu não pertencer a uma antiga família lusitana tal não me tem impedido de estudar, ver e raciocinar, sobre a situação social e económica de Portugal e dos portugueses em geral. E sem grande esforço, mas com uma enorme tristeza, verifiquei o desencontro entre a evolução das condições económico-sociais neste belo e afável País, comparativamente com os restantes países do ocidente europeu, mantém-se practicamente na mesma ao longo dos tempos. Uma economia desequilibrada, com uma dívida ao exterior em aumento e sem possibilidades visíveis de poder atingir um equilíbrio. A indigência vai em aumento, constante. Não tenhamos medo nem vergonha da palavra, mas sim, e muito, do que nos acontece.

Numa análise benévola e condescendente, falseamos a realidade alegando que são quedas cíclicas, que por maldade do fado, -ou dos deuses malignos, a escolher- colocam a País na mó de baixo. Mais objectivamente somos induzidos a culpabilizar a pesada influência de uma elite nada patriótica, mesmo que jurem lealdade e abnegação para o bem da Nação e cantem o hino nacional em sentido (figurado...) e com a mão direita sobre o seu coração, ou segurando a sua carteira.

Não serve de nada tentar identificar os culpados, em sucessivas gerações. Do mesmo modo de nada serve, como se verifica facilmente, recordar os avultados bens que se conseguiram dos diferentes territórios que se exploraram. O que aqui chegou foi gasto em luxos e obras supérfluas. Outra parte foi aplicado no pagamento dos empréstimos concedidos pelos banqueiros judeus sediados nos Países Baixos, e o restante gasto sem proveitos de vulto por umas poucas famílias.

O que não se fez foi educar, a população do País e, uma vez sabendo ler, escrever e o equivalente a uma cultura geral básica, incipiente, mas útil, iniciar a industrialização intensiva da metrópole. Mesmo a meritória tentativa do Marquês de Pombal não teve seguimento. E, em abono da verdade, os tratados comerciais de “amizade” com os países europeus sempre trataram, e mormente conseguiram, travar as sucessivas tentativas de iniciar um mercado interno, que além de abastecer as necessidades de alguns bens, tivesse possibilidades de exportar manufacturas de preço compensatório. As poucas indústrias que se instalaram não conseguiram estagnar o débito geral.

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